Turismo de Base Comunitária em Remanescentes de Quilombos
Juliana Ferreira, Bruno Augusto, Anna Vargas
RICIT no. 15. (2021) (pp. 50-65)
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ser destacadas, para além da alternativa de trabalho e renda, as restrições de uso de áreas
protegidas que necessitam de manejos específicos conforme determinam as legislações
ambientais que regulam o mosaico de Unidades de Conservação presentes no território.
De acordo com o documento (Instituto Socioambiental, 2008), a região faz parte do
circuito turístico das Cavernas da Mata Atlântica, no Parque Estadual Turístico do Alto
do Ribeira, o qual é um importante atrativo da região, tendo em vista que se trata de um
dos mais antigos parques ambientais do Estado de São Paulo. Criado em 1958, o parque
é referência para o turismo na região. Outro aspecto relevante abordado no documento é
a menção ao turismo cultural, pois além do turismo na natureza, as comunidades apontam
o interesse de reconhecer seu patrimônio cultural imaterial como aspecto de atração de
fluxos ou composição junto ao turismo relacionado aos aspectos ambientais.
As comunidades são organizadas em associações formadas pelos residentes nas
comunidades, sendo que algumas delas são consolidadas e foram criadas entre as décadas
de 1980 e 90. Tais associações tratam da organização, da autonomia interna e externa e
representação das comunidades em diversos âmbitos, tais como eventos, negociações da
produção, ações de promoção e comercialização, e diálogos institucionais com
pesquisadores e outras comunidades (Instituto Socioambiental, 2008). Ademais, por
serem figuras representativas da coletividade, as associações incentivam a participação
dos comunitários nas atividades desenvolvidas e nas decisões a serem tomadas em
assembleias (ibid). Segundo a Agenda (ibid), a atuação das associações é fundamental
para que as demandas da comunidade sejam atendidas, baseadas na solidariedade e na
cooperação entre os indivíduos participantes, com foco no desenvolvimento e na
autonomia das comunidades.
O Relatório Técnico do I Encontro Nacional de Turismo em Comunidades Quilombolas
(Instituto Socioambiental, 2010), realizado no município de Registro, São Paulo, foca
principalmente no desenvolvimento do TBC em quilombos. No documento, as
comunidades se colocam em uma posição de não somente almejar a atividade turística,
mas de participantes efetivos do processo, que já possuem conhecimento inclusive dos
impactos negativos, como por exemplo a entrada de drogas em algumas comunidades.
No Relatório (ibid), a autogestão é entendida como um dos resultados do
desenvolvimento do turismo. Anexo ao Relatório, há também a Carta Aberta destinada à
sociedade brasileira e assinada por comunidades participantes do Encontro. A Carta
abrange questões pertinentes à luta quilombola, à melhoria de qualidade de vida, à
importância do reconhecimento das culturas quilombolas, à conservação das regiões onde
se localizam e, em especial, à territorialidade. O documento (ibid) unifica tais questões
com o TBC, entendido como promotor de desenvolvimento e canalizador da conservação
do meio ambiente e de suas culturas. Com o entendimento das potencialidades e dos
impactos do TBC e com a exposição de comunidades quilombolas que já desenvolvem
atividades correlatas ao turismo, há evidências de que o evento proporcionou ambientes
favoráveis para a reflexão acerca do turismo como uma opção para o desenvolvimento.